top of page

Contraceção no pós-parto e durante a amamentação

A contracepção no pós-parto e, concretamente, na mulher que amamenta reveste-se de características especiais, porque importa conciliar a eficácia e segurança do método contracetivo com a preservação da qualidade do leite materno e a saúde da criança. Saiba mais sobre este tema.


Por Daniel Pereira da Silva

Ginecologista/Obstetra no Instituto Médico de Coimbra e Hospital da CUF Coimbra



ree

A amamentação deve ser promovida e protegida, atendendo ao impacto muito positivo que tem na relação da mãe com o recém-nascido e na mais-valia que representa para a saúde de ambos, em particular da criança.

Os esclarecimentos sobre estas questões devem ser prestados, devem ser procurados pela mulher, logo no último trimestre da gravidez, mas enfatizados aquando do internamento por causa do parto.


Risco de engravidar após o parto?

Importa salientar que a ausência de menstruação no período pós-parto, associada a amamentação exclusiva, com sucção regular e frequente pelo bebé, mesmo durante a noite, provoca um clima hormonal hostil à ovulação, pelo que a probabilidade de engravidar baixa consideravelmente até aos 6 meses, desde que estas condições (atrás mencionadas) se mantenham.

Quando os intervalos entre as mamadas se alongam, seja porque se introduzem outros alimentos, seja porque o leite materno não é suficiente, mesmo sem o advento da menstruação, a probabilidade de ovulação aumenta e consequentemente o risco de gravidez.

São várias as razões que não permitem garantir que a gravidez é impossível durante a amamentação, daí a recomendação universal de que se use um método contracetivo eficaz, mas que não interfira na amamentação e não passe para o leite materno. Os métodos barreira (nomeadamente, o preservativo) podem ser usados porque são inócuos, mas, na generalidade, não merecem a preferência da maior parte dos casais.


Contraceção hormonal: sim ou não?

A contraceção hormonal é possível. Devemos dar preferência à mini-pílula, isto é a pílula só com progestativo. A mulher toma diariamente um comprimido, sem qualquer pausa, enquanto amamentar. Este contracetivo não interfere no aleitamento e não há riscos para a criança e para a mãe. Habitualmente não provoca qualquer perda menstrual, mas com o passar dos meses a menstruação pode aparecer, normalmente em pequena quantidade.

Os implantes com progestativo contêm a mesma substância que este tipo de pílula e podem ser usados. A sua colocação é recomendada 6 semanas após o parto.


O dispositivo intra-uterino (DIU) é outra possibilidade. Existem duas modalidades: o clássico (não-hormonal) e o DIU que contém também um progestativo. Com o primeiro a menstruação aparece com regularidade, às vezes um pouco mais arrastada; com o segundo a menstruação tende a diminuir, mesmo a desaparecer. Quer um, quer outro, ou são colocados de imediato ou cerca de 4 a 6 semanas após o parto.


O uso da pílula convencional não é aconselhável, dado que aumenta o risco de tromboembolismo, que é naturalmente maior no pós-parto e pode interferir na qualidade do leite. Por isso, só deve ser usada quando há contraindicação para outros métodos. Nestas circunstâncias devemos dar preferência às combinações de baixa dosagem.


Métodos contracetivos definitivos

Quando o casal pretende um método definitivo, a laqueação ou obstrução tubar são duas opções possíveis, sem esquecer a esterilização masculina, com a laqueação do deferente, que também é segura e inócua. Estes métodos só devem ser elegíveis quando os anteriores não satisfazem ou apresentam intercorrências. A decisão deve ser objeto de ponderação cuidada, sem elementos que a possam precipitar e mais tarde ser fonte de arrependimento.

Após o parto, a amamentação deve merecer prioridade pelos benefícios que representa, pelo que a escolha do método contracetivo não pode desvalorizar esse objetivo. Devemos dar particular atenção às preocupações da mulher, que estão centradas no desenvolvimento saudável da criança, mas também na sua recuperação progressiva. O diálogo acessível e esclarecido é mais necessário do que nunca. É fundamental envolver o companheiro para que relacionamento conjugal se faça com harmonia, no respeito de ambos e de todos os valores em causa.


Perguntas e respostas


1. Qual o melhor método contracetivo após o parto: pílula ou DIU (vantagens e desvantagens)?

No pós-parto há várias questões a considerar, nomeadamente o tempo que decorreu após o parto. Este dado tem importância por várias razões: após o parto a mulher tem um risco elevado de tromboembolismo e esse risco baixa com o tempo. Outro fator importante é a interferência da pílula com a amamentação, que se deve promover. Essas são as razões principais porque a contraceção hormonal tem critérios mais apertados no pós-parto. Deve dar-se preferência à pílula só com progestativo, porque é mais segura quanto ao risco tromboembólico. As combinações que tenham estrogénios só podem administrar-se 6 meses após o parto. Outras opções possíveis são os dispositivos intrauterinos. Há publicações que apontam para uma aplicação imediata no pós-parto, mas a prática mais comum é a colocação após 4 semanas do parto.

A pílula só com progestativo é a opção mais utilizada, por questões de aceitabilidade, segurança e não interferência com a amamentação. O uso dos dispositivos, particularmente os que libertam levonorgestrel tem vindo a merecer uma aceitação progressiva, porque tem os mesmos benefícios que a pílula só com progestativo: longa duração, mais cómoda e a sua eficácia é independente da utilizadora.


2. A mulher pode engravidar durante o período em que amamenta?

Pode. Quando a amamentação não é exclusiva, não se faz em intervalos regulares e, mesmo durante a noite, a ovulação pode ocorrer, em metade dos casos, antes da sexta semana pós-parto e nas que não amamentam pode ocorrer ao fim de quatro semanas.


3. Há possibilidade de laquear temporariamente as trompas?

Não há possibilidade de laquear temporariamente as trompas. A laqueação tubar é um procedimento a título definitivo. A reversão de uma laqueação das trompas não é impossível, mas é um procedimento difícil e com uma margem de sucesso muito baixa.


4. A contraceção no período de amamentação não prejudica o leite e não impede de amamentar? Há contracetivos específicos para o período da amamentação?

Não há métodos contracetivos específicos para o período de amamentação, mas há métodos indicados e outros com muitas reservas ou mesmo contraindicados durante a amamentação. Entre os indicados estão os métodos hormonais só com progestativos (pílula e implante), os dispositivos intaruterinos de cobre ou com levorgestrel e os métodos de barreira (preservativo). Entre os contraindicados ou com reservas estão a pílula e o adesivo com combinações de estrogénios com progestativos.

Comentários


bottom of page