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Ter o rei na barriga... por tempo (ainda) indeterminado!

Atualizado: 25 de set. de 2019

Numa fase em que sentimos que estamos prestes a "rebentar" pelas costuras, passa tanta coisa pela cabeça de grávida... são dúvidas e dias que demoram a passar! A ansiedade cresce, sobretudo quando a médica nos diz que o processo ainda está "atrasado". É um misto de emoções e sensações, ainda por cima quando fazemos parte de um grupo de grávidas que têm de esperar mesmo até à última (ou seja, 41 semanas ou depois) para conhecer o "rei" que transportaram na barriga durante tanto tempo.



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No fundo, tudo começa com uma simples conta: 1+1 = 3. Do ponto de vista da matemática, poderia ser um erro de cálculo, até porque em alguns casos o resultado poderá ser 4 ou até mesmo 5. Mas no meu caso o resultado foi 3. Já estou nas últimas semanas, sim, porque supostamente deveria nascer até às 40, mas parece que o "rei" que transporto no ventre está confortável na sua assoalhada. E não quer sair por nada, ao ponto de me obrigar a eventualmente a ser submetida a uma indução... e eu que preferia que ele nascesse por livre vontade e que a natureza fizesse o trabalho que lhe compete. Mas não...

É o cansaço extremo a acumular-se e a barriga a incomodar. E depois são todos os medos que se somam a esta conta tão simples de 1+1= 3. Confesso que nesta reta final as emoções já estão à flor da pele. Tudo está à flor da pele: as olheiras, o cansaço, as estrias que, teimosamente e apesar de todos os cuidados, acabaram por aparecer, os olhos inchados de chorar baixinho no silêncio da noite... seria uma lista infindável! Depois, apercebemo-nos que aqueles com quem gostaríamos de contar não estão disponíveis, nem fisicamente, nem mentalmente, ou simplesmente estão-se nas tintas para o que estamos a viver e sentir! Essa parte entristece... porque acabamos por entender que as pessoas que tínhamos como mais próximas (proximidade de coração, entenda-se) são aquelas que não querem saber, mas de uma tal forma que nem um telefonema fazem para perguntar se já estamos melhor! É como nos cair a ficha de que, afinal de contas, não podemos contar com aquelas pessoas. O melhor é seguir em frente!

Depois, temos o extremo oposto: pessoas com quem não temos essa proximidade emocional e que não têm aquele "dom" de nos acalmar, como se de um bálsamo se tratasse, mas que nos bombardeiam com mensagens! No meio de tudo isto, acabei por "escolher" anónimos, que é como quem diz pessoas com quem acabei por criar uma relação de proximidade, nos fóruns ou grupos de grávidas, porque passaram por situações semelhantes. Porém, a maioria das mulheres já tem o rei fora da barriga, o que me deixa novamente numa situação desigual, porque o meu tempo ainda "sobra". Deixará de sobrar quando o meu filho nascer. Acho que, neste momento, ainda tenho necessidade de me "fechar" nas redes sociais porque há alturas em que me sinto angustiada. E as redes sociais, para o bem e para o mal, ajudam-me a relativizar os meus problemas... e mantêm a minha mente ocupada e, aparentemente, desligada de problemas reais. Acho que as redes sociais têm essa virtualidade: estamos "online", mas alheadas (quase em estado "offline") de alguma realidade que não queremos enfrentar.

Provavelmente, eu deveria ser capaz de comunicar mais verbalmente, mas sempre foi assim e, para mim, é tão mais fácil dizer o que sinto através da escrita. É como uma limpeza da alma: cada palavra ajuda a varrer a tristeza, nos dias em que a alma está mais pálida ou empoeirada! Nesta fase já acuso cansaço psicológico e, para ser honesta, dispenso conversas de circunstância ou palpites alheios. As pessoas deveriam ser capazes de duas coisas: opinar quando lhes é solicitada uma opinião e respeitarem a privacidade e o espaço de quem está grávida ou de quem acabou de sair da maternidade. Mas ambas as coisas são praticamente impossíveis e estão fora do alcance do comum dos mortais... Eu fico ainda mais irritada quando se manifestam sobre isto, aquilo e o outro... eh pá, parem de emitir opiniões não fundamentadas. Parem de se intrometer na minha vida. Parem de impor a vossa presença, seja fisicamente ou através de contactos de sms ou telefonemas. Já basta ter de arrumar dentro da nossa cabeça todos os pensamentos que se atropelam diariamente. Não tenho espaço para ruídos causados pela opinião alheia não solicitada ou sound bites da treta!

Depois, queixam-se que pareço uma bomba-relógio quando começo a encher o saco e a receber demasiado ruído para os meus olhos ou ouvidos. Uma pessoa, na condição de grávida em final de gestação, já não tem o mesmo cérebro de antigamente: as prioridades, embora seja algo subtil, começam a alterar-se. O que queremos (ou estamos dispostos a) ouvir ou deixar de ouvir e por parte de quem queremos ouvir também se altera completamente. Uma pessoa passa semanas seguidas, desde que anuncia ao mundo que terá um rei na barriga, a ouvir palpites ou a bombardearem-nos de perguntas... ou simplesmente somos obrigadas a filtrar comentários parvos de colegas de trabalho ou anónimos que acham que têm o direito de se intrometer nas nossas vidas...

No meio disto tudo, ainda temos de gerir a rebeldia das nossas hormonas... uns dias deixam-nos em êxtase, outros dias deixam-nos completamente destruídas e arrasadas. É como uma roda gigante cheia de altos e baixos... depois, há todos os medos que fomos angariando ao longo dos anos, mas que, por uma questão de segurança, foram colocados num baú fundo, fundo. Curioso é perceber que este baú fundo nos atirou com todos os medos para cima, e parece que nos despejou tudo de uma vez só! Os medos, as hormonas doidas, a somar aos palpites alheios, que nos subtraem a confiança (em vez de nos acrescentarem algo) são uma combinação explosiva e perigosa...

Pior ainda quando a médica nos diz, perto das 40 semanas, que "ainda está atrasado". Como assim? Ainda tenho de sofrer mais? É alguma prova de paciência ou teste à resistência humana? O bebé terá de nascer por indução? Mas porquê que não pode ser de acordo com as leis da natureza? Porquê eu a estar nesta situação de arrastar até ao limite o nascimento do meu "inquilino", cujo contrato está a expirar? Depois, surgem as culpas... ah, se calhar não caminhei tudo o que deveria ter caminhado. Se calhar fui demasiado sedentária!

Mas como é que eu posso andar quando o meu corpo não colabora e parece que os pés se colam ao chão quando me movimento? Quando pareço uma idosa cheia de reumático, que após cada passo sente os ossos todos a estalar. E explicar isto ao mais-que-tudo? Até parece um argumento de preguiçosa... mas não é! Simplesmente, não quero passar o tempo a queixar-me e, honestamente, falar o quê? Dizer que sinto uma vontade imensa de chorar, que me sinto um trapo por não conseguir dormir e recuperar do cansaço e pedir-lhe que ele esteja comigo até ao fim durante esta jornada toda, mesmo sem entender alguns dos porquês e dos comportamentos que até certo ponto podem parecer irracionais? Posso pedir-lhe que aguente estoicamente todas as mudanças que já ocorreram e que ainda não acontecer? Que não saia do meu lado, porque ele é o meu pilar e este caminho só é possível de percorrer com ele do meu lado? E que aguente mais um pouco, porque depois será uma nova fase... e que o esta nova fase será completamente às cegas, porque não temos um manual de instruções? E que tenho medo do desconhecido, tal e qual como ele o terá, mas não transmite? Que, por vezes, não sei como comunicar as minhas emoções e que, no final, sai um emaranhado de palavras que não abrangem tudo o que queria transmitir. Que não queria transmitir insegurança, porque é com essa insegurança e com todos os receios que tenho de lidar todos os dias, ao pensar na incerteza do futuro? Que apesar de todas as dúvidas também tenho algumas certezas: a certeza de que este bebé é luz na minha vida e que não queria que este bebé tivesse outro pai que não fosse o meu mais-que-tudo. É com o meu mais-que-tudo que quero construir uma história, com passado, presente e futuro. E que apesar dos meus defeitos e inseguranças quero escrever todos os dias um novo capítulo da nossa história a três. Sem pressões exteriores, sem palpites alheios não solicitados, sem interferências... que cada dia nos ensine a ser pessoas melhores. Que cada experiência nos torne mais fortes. Mas, acima de tudo, quero que o foco seja a família, a nossa, aquela que nós escolhemos. Quero que tu (mais-que-tudo) nos defendas de tudo e que, agora que estou mais frágil, apesar de no meu corpo caberem duas pessoas (eu e o nosso filho), me protejas do mundo, que nos protejas! Porque agora somos 3 em contagem regressiva, à espera de nos conhecermos todos no mundo cá fora!

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